02 dezembro, 2005

A Palavra MULHER

Olho-me, choro. Fico um pouco histérica, acalmo-me. Esqueço tudo o que alguma vez aconteceu. Penso em tudo aquilo que já aconteceu vezes sem conta. Observo-me ao espelho. Aprecio-me ao espelho. Apetece-me partir o espelho. Dispo a minha roupa e atiro-a para o chão. Ponho tudo de pernas para o ar. Deixo tudo onde está para que outra pessoa arrume. Apercebo-me de que sou sempre eu que arrumo tudo. Canto muito bem. Canto mal. Como coisas que não devia come. Dobro-me e observo os meus músculos. Deixo de me dobrar e reparo nas minhas cicatrizes. Gostaria de saber como seria se fosse loura. Gostaria de sabia como é que ficaria se fosse ruiva. Gostaria de saber como é que ficaria se fosse velha. Pinto-me como nunca o faria se fosse para a rua. Experimento roupas que nunca vestiria em publico. Olho para os meus seios. Imagino-os maiores, mais pequenos, mais arredondados, mais firmes, menos firmes, mais bonitos, mais feios. Aceito os meus tal como são. Escondo-me. Respondo ás pessoas e ganho. Tento fantasias em que a estrela sou eu. Estico a pele da minha cara e imagino-me sem rugas. Pergunto-me se devia fazer uma operação plástica. Esqueço a operação plástica e penso em algo mais barato. Grito comigo própria, perdoou-me. Ensaio aquilo que irei dizer amanhã. Aumento o volume do rádio para não me ouvir. Abro a torneira para não ouvir o rádio. Perco-me…Imagino-me numa ilha deserta, mas com outras pessoas muito atraentes. Rezo. Procuro os meus defeitos. Aceito esses defeitos e procuro outros. Faço caretas ao espelho. Vejo como é que fico com ar de sedutora, de amuada, de zangada, de surpreendida, de chocada, de impressionada. Absorta. Tiro a minha aliança. Olho para mim nua. Olho para mim e gosto do que vejo.

By Dosha

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