25 setembro, 2007

Sensibilidades

"Entre tantas coisas giras que lhe ofereci, agarrou-se logo à única que eu já não conseguiria salvar. Por mais que mo pedisse, por mais que insistisse, àquela flor… vida alguma jamais haveria de voltar. Eis a verdade, nua e crua.

Expliquei-lhe aquilo vezes sem conta, mas mesmo assim deixou-se ali ficar. A tarde toda, seguida pela noite, e pela manhã do dia seguinte. Pensei que os cheiros dos temperos do almoço lhe aguçassem o apetite e lhe dessem força para procurar outro poiso, mas nem os tachos destapados nem as travessas rasas por ali à mostra conseguiram tal feito. Simplesmente porque em toda a minha mesa, em toda a minha cozinha, aquela coisa caída era tudo o que ela queria.

Perguntei a mim mesma porque fui eu buscar a flor ao jardim, se este é tão dela quanto meu. Para a ver morrer na jarra? Para a ver cair ao chão? Que coisa tão sem nexo, que coisa tão em vão. Seguramente que me culpa. Tanto tamanho, tão pouco juízo.

Decido sentar-me, fazer-lhe companhia. Até que a flor seque, até que passe o dia. Uma parte de mim quer que vá embora, a outra… que morra agora. Para que a minha vergonha passe depressa, para que eu me esqueça do que fiz outrora.

Isto era o que leriam se eu tivesse nascido fêmea. Como a natureza quis coisa diversa, resumo a história da foto a duas linhas: se o raio da borboleta precisa daquilo para desentupir a sanita lá de casa, por mim… pode levar."

PS: Não resisti a publicar este texto quando o vi. Parabéns ao Autor.

14 setembro, 2007

Cartas (Parte I)


Imagem de: Miguel Rita


Olá meu Anjo,

Hoje tive tanta vontade de falar contigo.
Tenho tantas coisas para te contar…
Para dizer a verdade, já devia ter falado contigo antes, mas esse telemóvel nunca está ligado, nunca lhe ligas nenhuma, sempre foi assim, né?
Resolvi escrever-te, mas não sei se por falta de tempo ou de coragem, não o fiz antes…
As minhas tartarugas estão tão grandes, lindas e gordas!!! Têm andado mais agitadas, devem também elas sentir a tua falta. Nunca mais as visitaste!
Sabias como anda a Lisa? Está quase casada, achas bem? Mudou-se para a Terra do Mar, lá com os pescadores e com aquele Perfume que só a Natureza produz.
Ficou por lá, habituou-se àquele cheiro…também quem não se habitua, né?
Eu…eu cá ando, a rebentar por uma conversa contigo, por um abraço teu, de amiga, sabes tão bem como é!...
Sabes que hoje encontrei um CD teu?! Mercado Negro. Tu adoras! Deve fazer-te falta, não?
Acreditas que assim que olhei para ele no cimo da minha estante, houve uma pequena lágrima coberta de saudade que espreitou o Mundo? Já viste a falta que me fazes? É só um CD, mas pronto…representa-te!
Bem, vou dormir, cheia de pensamentos por ti.

Não te esqueças de ligar esse telemóvel, tá?!

Beijos, Adoro-te!

PS: Lembras-te de me dizeres “de vez em quando inclina a cabeça para o teu lado esquerdo, porque eu estou ao teu lado a sussurrar-te ao ouvido que te adoro” quando não pudeste ir à minha festa de anos? É assim que tento compensar a minha ausência na tua vida…