"Entre tantas coisas giras que lhe ofereci, agarrou-se logo à única que eu já não conseguiria salvar. Por mais que mo pedisse, por mais que insistisse, àquela flor… vida alguma jamais haveria de voltar. Eis a verdade, nua e crua.
Expliquei-lhe aquilo vezes sem conta, mas mesmo assim deixou-se ali ficar. A tarde toda, seguida pela noite, e pela manhã do dia seguinte. Pensei que os cheiros dos temperos do almoço lhe aguçassem o apetite e lhe dessem força para procurar outro poiso, mas nem os tachos destapados nem as travessas rasas por ali à mostra conseguiram tal feito. Simplesmente porque em toda a minha mesa, em toda a minha cozinha, aquela coisa caída era tudo o que ela queria.
Perguntei a mim mesma porque fui eu buscar a flor ao jardim, se este é tão dela quanto meu. Para a ver morrer na jarra? Para a ver cair ao chão? Que coisa tão sem nexo, que coisa tão em vão. Seguramente que me culpa. Tanto tamanho, tão pouco juízo.
Decido sentar-me, fazer-lhe companhia. Até que a flor seque, até que passe o dia. Uma parte de mim quer que vá embora, a outra… que morra agora. Para que a minha vergonha passe depressa, para que eu me esqueça do que fiz outrora.
Isto era o que leriam se eu tivesse nascido fêmea. Como a natureza quis coisa diversa, resumo a história da foto a duas linhas: se o raio da borboleta precisa daquilo para desentupir a sanita lá de casa, por mim… pode levar."