04 dezembro, 2007

Cartas (Parte III)


Noc Noc…
Estás aí amiga?!
Sabes que me farto de escrever para ti, a contar as novidades, as ânsias, as alegrias, tristezas… algumas aqui outras naquele livro que tu conheces, a minha agenda, secreta como os segredos que guardo lá.
Mas hoje tive que escrever aqui. A data é especial e eu queria ter a certeza que lias! Sim, porque esse telemóvel nunca está ligado quando preciso falar contigo, não é Doia?
A Internet tem essa vantagem, de sermos nós a fazer e receber dela o que melhor nos convém. Por vezes florimos os cenários que nos compõem, vemos o que queremos ver, outras vezes mais do que queremos ver. No fundo, pintamos com as nossas cores o mundo que nós próprios desenhamos.
É um pouco o que estou para aqui a fazer, a escrever-te na esperança que leias assim que eu o publicar, mesmo sabendo que não o vais fazer. Mas ao escrever projecto para o exterior um pouquinho do que vai para aqui… e esse exterior, eu tenho a certeza que tu vês e sentes, não há ninguém que me faça desacreditar!
Bom…passando ao essencial! Sabes quem faz anos Hoje??? TU AMIGA!!!
É essa a grande razão deste texto grande e chato… além de todas as saudades que sinto tuas, este é o primeiro ano que não te dou os parabéns pessoalmente, não saímos para beber um copo para festejar, não te dou aquele abraço do qual eu sou tão dependente.
Pronto, resolvi dar-tos aqui. Talvez seja fraquejo meu…mas foi a melhor maneira que arranjei de me sentir mais junto a ti, já que não pude ir aí, onde estás.
Estejas onde estiveres, nesse sitio que não tem rede, podes ter a certeza que do meu coração nunca sais!

Adoro-te Doiiiinha, Pelo que és e pelo que fazes por todos aqueles que estão à tua volta.
Beijos amigona (Adeus para ti, NUNCA!)

30 outubro, 2007

Cartas (Parte II)

Imagem de: Cristina V.

Lamento o meu estado de desespero…de simplesmente não conter as lágrimas que soltam rebeldia.
Lamento o descontrole, o desarme que sinto à realidade.
Lamento o insuportável desconforto desta solidão que me deixa ouvir o som das paredes…brancas…tão simples…básicas…como este meu fraquejo da saudade que sinto de ti, da minha dependência de ti.
Lamento a pequenez de mim…


25 setembro, 2007

Sensibilidades

"Entre tantas coisas giras que lhe ofereci, agarrou-se logo à única que eu já não conseguiria salvar. Por mais que mo pedisse, por mais que insistisse, àquela flor… vida alguma jamais haveria de voltar. Eis a verdade, nua e crua.

Expliquei-lhe aquilo vezes sem conta, mas mesmo assim deixou-se ali ficar. A tarde toda, seguida pela noite, e pela manhã do dia seguinte. Pensei que os cheiros dos temperos do almoço lhe aguçassem o apetite e lhe dessem força para procurar outro poiso, mas nem os tachos destapados nem as travessas rasas por ali à mostra conseguiram tal feito. Simplesmente porque em toda a minha mesa, em toda a minha cozinha, aquela coisa caída era tudo o que ela queria.

Perguntei a mim mesma porque fui eu buscar a flor ao jardim, se este é tão dela quanto meu. Para a ver morrer na jarra? Para a ver cair ao chão? Que coisa tão sem nexo, que coisa tão em vão. Seguramente que me culpa. Tanto tamanho, tão pouco juízo.

Decido sentar-me, fazer-lhe companhia. Até que a flor seque, até que passe o dia. Uma parte de mim quer que vá embora, a outra… que morra agora. Para que a minha vergonha passe depressa, para que eu me esqueça do que fiz outrora.

Isto era o que leriam se eu tivesse nascido fêmea. Como a natureza quis coisa diversa, resumo a história da foto a duas linhas: se o raio da borboleta precisa daquilo para desentupir a sanita lá de casa, por mim… pode levar."

PS: Não resisti a publicar este texto quando o vi. Parabéns ao Autor.

14 setembro, 2007

Cartas (Parte I)


Imagem de: Miguel Rita


Olá meu Anjo,

Hoje tive tanta vontade de falar contigo.
Tenho tantas coisas para te contar…
Para dizer a verdade, já devia ter falado contigo antes, mas esse telemóvel nunca está ligado, nunca lhe ligas nenhuma, sempre foi assim, né?
Resolvi escrever-te, mas não sei se por falta de tempo ou de coragem, não o fiz antes…
As minhas tartarugas estão tão grandes, lindas e gordas!!! Têm andado mais agitadas, devem também elas sentir a tua falta. Nunca mais as visitaste!
Sabias como anda a Lisa? Está quase casada, achas bem? Mudou-se para a Terra do Mar, lá com os pescadores e com aquele Perfume que só a Natureza produz.
Ficou por lá, habituou-se àquele cheiro…também quem não se habitua, né?
Eu…eu cá ando, a rebentar por uma conversa contigo, por um abraço teu, de amiga, sabes tão bem como é!...
Sabes que hoje encontrei um CD teu?! Mercado Negro. Tu adoras! Deve fazer-te falta, não?
Acreditas que assim que olhei para ele no cimo da minha estante, houve uma pequena lágrima coberta de saudade que espreitou o Mundo? Já viste a falta que me fazes? É só um CD, mas pronto…representa-te!
Bem, vou dormir, cheia de pensamentos por ti.

Não te esqueças de ligar esse telemóvel, tá?!

Beijos, Adoro-te!

PS: Lembras-te de me dizeres “de vez em quando inclina a cabeça para o teu lado esquerdo, porque eu estou ao teu lado a sussurrar-te ao ouvido que te adoro” quando não pudeste ir à minha festa de anos? É assim que tento compensar a minha ausência na tua vida…

04 abril, 2007

Imagem de: Barbara Alves de Campos

Para quem não consegue ler o texto digitalizado...


"Tenho saudades, ou apenas necessidade de escrever.
Tenho entaladas palavras, enroscadas na falta de tempo ou no excesso de contratempo.
Tenho entaladas palavras, soltas e desertas para se mostrarem em papel, mesmo que sem linhas para que não haja tendência de conta-las, para que não haja tendência de contabilizar valores e regras.
Estão entaladas palavras, ansiosas de se projectarem em formas bem redondas, humanas. Em tinta de um simples aparo de caneta permanente e papel de uma bela Moleskine para que recorde o intemporal que é a mente e a Alma Humana!"

10 fevereiro, 2007

Carminho & Sandra [Vote em consciência]

Imagem de: Miguel Lopes
"Carminho senta-se nos bancos almofadados do BMW da mãe. Chove lá fora...Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolampela face. A mãe conduz o carro e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito na Lapa ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago masaperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho deEspanha.

(Mais abaixo na cidade)

Sandra senta-se no banco côr-de-laranja do autocarro 22 que sai de Alcântara. Chove lá fora. Encosta o nariz ao vidro para disfarçar duas enormes lágrimas que lhe rolam pela face. A mãe está sentada ao lado dela. Encosta o guarda-chuva aos pés gelados e aperta-lhe ternamente a mão. Há muito trânsito em Alcântara ao fim da tarde. A mãe tem um olhar triste e vago mas aperta com força a mão da filha de 18 anos. Estão juntas. A caminho de casa de Uma Senhora.

O BMW e o autocarro 22 cruzam-se a subir a Avenida Infante Santo.

Carminho despe-se a tremer sem nunca conseguir estancar o choro. Vesteu uma bata verde. Deita-se numa marquesa. É atendida por uma médica que lhe entoa palavras doces ao ouvido, enquanto lhe afaga o cabelo. Carminho sente-se a adormecer depois de respirar mais fundo o cheiro que a máscara exala. Chora enquanto dorme.

Sandra não se despe e treme muito sem conseguir estancar o choro. Nervosa, brinca com as tranças que a mãe lhe fez de manhã na tentativa delhe recuperar a infância. A Senhora chega. A mãe entrega um envelope à Senhora. A Senhora abre-o e resmunga qualquer coisa. É altura de beber um liquido verde de sabor muito ácido. O copo está sujo, pensa Sandra. Sente-se doente e sabe que vai adormecer. Chora enquanto dorme.

Carminho acorda do seu sono induzido. Tem a mãe e a médica ao seu lado. Não sente dores no corpo mas as lágrimas não param de lhe correr cara abaixo. Sai da clínica de rosto destapado. Sabe-lhe bem o ar fresco da manhã. É tempo de regressar a casa. Quando a placa da União Europeia surgena estrada a dizer PORTUGAL, Carminho chora convulsivamente.

Sandra não acorda. E não acorda . E não acorda. A mãe geme baixinho desesperada ao seu lado. Pede à Senhora para chamar uma ambulância. A Senhora não deixa, ponha-se daqui para fora com a miúda, há uma cabine lá em baixo, livre-se de dizer a alguém que eu existo.
A mãe arrasta a Sandra inanimada escada a baixo. Um vizinho cansado, chama o 112 e a polícia. Sandra acorda no quarto 122 dias depois. As lágrimas cara abaixo. Não poderás ter mais filhos, Sandra, disse-lhe uma médica, emocionada.
Sai do hospital de cara tapada, coberta por um lenço. Não sente o ar fresco da manhã. No bolso junto ao útero magoado, a intimação para se apresentar a um tribunal do seu país: Portugal."
Autor do Texto: Rita Ferro Rodrigues

30 janeiro, 2007